sábado, 27 de novembro de 2010

Em meio a cerco no Complexo do Alemão, Cabral diz que governo não recua

Soldado aponta fuzil em meio a jornalistas no Complexo do Alemão.

O governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, afirmou neste sábado que o governo do Estado não vai recuar da estratégia de retomar o controle do Complexo do Alemão, onde estão centenas de traficantes, com o objetivo de "garantir o ir e vir das pessoas".

"As operações em curso no Rio de Janeiro, desenvolvidas por nossos policiais, pela Polícia Federal e pelas tropas militares, são essenciais para garantir o ir e vir das pessoas", afirmou o governador, por meio de comunicado.

As forças policiais e militares mantêm na noite deste sábado o cerco ao Complexo do Alemão, com mais de 2 mil homens posicionados nos 44 acessos do complexo.

No total, são 800 soldados da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército, 300 agentes da Polícia Federal (PF) e 1,3 mil homens das polícias Militar e Civil.

Blindados do Exército e da Marinha e veículos do Batalhão de Operações Especiais da PM (Bope) são utilizados na operação. A Polícia Militar estima que entre 500 e 600 traficantes estejam no Complexo do Alemão.

Segundo o governador, as equipes de Segurança têm informado a população sobre os eventos no Rio. Para ele, "o momento é de retomada de territórios, de afirmação da ordem e do Estado de Direito Democrático".

"Estamos todos unidos. Todos com o mesmo propósito: seguir em frente sem qualquer recuo na busca da libertação das pessoas do poder de bandidos nas comunidades", disse Cabral.

Cabral diz que seu compromisso é "pacificar todas as comunidades onde houver o domínio do poder paralelo".

Ultimato no por-do-sol

À tarde, o coronel Lima Castro, relações públicas da PM do Rio, chegou a dizer a jornalistas que os traficantes teriam até o por-do-sol para se entregar. No entanto, a PM ainda não iniciou a ocupação das favelas.

"A proposta é de paz, mas se formos chamados à guerra, vamos responder com a mesma força", afirmou.

A PM estabeleceu um procedimento para que os traficantes se rendessem. Eles deveriam se apresentar com fuzis sobre as cabeças e entregar as armas num posto montado na rua Joaquim Queiroz, no Complexo do Alemão, próximo à Estrada de Itararé.

Segundo Lima Castro, os bandidos estão "desgastados e estressados", sem mantimentos e munição. O coronel afirmou que a superioridade numérica e de equipamento das forças de segurança é total. "Tudo é favorável a nós".

O comandante do Batalhão de Choque, Waldir Soares Filho, disse a jornalistas que todas as pessoas que entram ou saem do Complexo do Alemão estão sendo revistadas e sendo obrigadas a apresentar documento de identidade.

Moradora foge de casa em meio a soldados no Morro do Alemão.

Ao longo do dia, o Exército realizou vários bloqueios no Complexo do Alemão, parando e revistando pedestres, carros, motos e caminhões para evitar a fuga de traficantes.

Traficantes detidos

No total, 31 pessoas foram detidas e encaminhadas para averiguação pela Polícia Civil.

Entre eles, está Edson Souza Barreto, o "Piloto", 49 anos, chefe de segurança de Fabiano Atanázio, o "FB", chefe do tráfico na Vila Cruzeiro. Segundo a Polícia, ele tentou fugir da Vila Cruzeiro ao se mesclar a um grupo de moradores que descia o morro portando bandeiras brancas.

Já Diego Raimundo Santos, conhecido como "Mister M", se rendeu à Polícia no Morro do Alemão. Ele é suspeito de fazer a segurança do traficante "Pezão", que chefia o tráfico no local. A mãe de "Mister M" disse a jornalistas que convenceu seu filho a se entregar.

Duas pessoas foram feridas a tiros na região na manhã deste sábado, ao tentar escapar do cerco. Os dois suspeitos foram atendidos em um hospital local e levados à delegacia da região em seguida.

O coordenador da ONG Afroreggae, José Júnior, esteve no Complexo do Alemão e tentou convencer traficantes a se entregarem.

"Ninguém falou que queria partir pro enfrentamento, mas não quer dizer que ninguém vá", afirmou ele à imprensa no local ao sair. "Tentei passar pra eles que deveriam se entregar, para que não morressem e também não expusessem os moradores."

Transferência de presos

Neste sábado, dez homens presos por envolvimento nos ataques no Rio foram transferidos para o presídio federal de Catanduvas (PR), por meio de um avião que partiu do aeroporto Santos Dumont.

Na madrugada de quarta para quinta-feira, outros dez presos foram levados para Catanduvas, que, por sua vez, teve prisioneiros transferidos para Porto Velho (RO).

"A qualquer momento, quando a inteligência do Rio detectar que o melhor caminho é a transferência de pessoas para fora do estado, elas serão enviadas para presídios federais, como já vem sendo feito", disse o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto.

O objetivo do rodízio é evitar a proximidade dos presos entre si ou com funcionários dos presídios. De acordo com o ministro, a Polícia Rodoviária Federal está em alerta para impedir a fuga de traficantes do Rio, e todo o aparato de segurança do governo federal está à disposição do Estado.

"Entramos numa nova fase, com um pacto federativo com integração absoluta entre todas as forças de segurança para superar essa crise no Rio", disse.

No total, 35 pessoas já morreram desde o início do conflito entre polícia e traficantes no Rio, há uma semana. Entre as vítimas, mais de 20 são traficantes. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
FONTES ESTADÃO

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ZUMBI DOS PALMARES Libertador de escravos: 1655 - 1695





QUANDO TUDO ACONTECEU...








c.1600: Negros fugidos ao trabalho escravo nos engenhos de açúcar de Pernambuco, fundam na serra da Barriga o quilombo de Palmares; a população não pára de aumentar, chegarão a ser 30 mil; para os escravos, Palmares é a Terra da Promissão. - 1630: Os holandeses invadem o Nordeste brasileiro. - 1644: Tal como antes falharam os portugueses, os holandeses falham a tentativa de aniquilar o quilombo de Palmares. - 1654: Os portugueses expulsam os holandeses do Nordeste brasileiro. - 1655: Nasce Zumbi, num dos mocambos de Palmares - 1662 (?): Criança ainda, Zumbi é aprisionado por soldados e dado ao padre António Melo; será baptizado com o nome de Francisco, irá ajudar à missa e estudar português e latim. - 1670: Zumbi foge, regressa a Palmares. - 1675: Na luta contra os soldados portugueses comandados pelo Sargento-mor Manuel Lopes, Zumbi revela-se grande guerreiro e organizador militar. - 1678: A Pedro de Almeida, Governador da capitania de Pernambuco, mais interessa a submissão do que a destruição de Palmares; ao chefe Ganga Zumba propõe a paz e a alforria para todos os quilombolas; Ganga Zumba aceita; Zumbi é contra, não admite que uns negros sejam libertos e outros continuem escravos. - 1680: Zumbi impera em Palmares e comanda a resistência contra as tropas portuguesas. - 1694: Apoiados pela artilharia, Domingos Jorge Velho e Vieira de Mello comandam o ataque final contra a Cerca do Macaco, principal mocambo de Palmares; embora ferido, Zumbi consegue fugir. - 1695, 20 de Novembro: Denunciado por um antigo companheiro, Zumbi é localizado, preso e degolado

CANDOMBLÉ

De Lisboa para o Rio de Janeiro antes que a PIDE me deitasse a mão... Ali faço boa amizade com o Ricardo, homem bem mais velho do que eu, mulato não muito escuro. Economista, tem um bom emprego no Banco do Brasil. Mas nunca é promovido. Os seus colegas brancos, que tinham entrado ao mesmo tempo do que ele, já ganham o dobro do seu salário. Diz-me:

- Portuga: sou branco de menos para chefiar e branco de mais para fazer limpeza. Até entendo a Administração do Banco: preto, se não caga na entrada, com certeza caga na saída...

Ele a dizer-me isto e eu a pensar na Casa Grande e Senzala do Gilberto Freire. Sociologia? Talvez melaço, isso sim! A disposição do português para fornicar todas as mulheres, qual seja a cor que tiverem, isso não é democracia racial, é fúria genital. E parem lá de me salpicar com o luso-tropicalismo para adoçar a pastilha... Palmadinhas nas costas mas fica aí no teu lugar, escraviza muito mais do que murros, palmatórias, chicotes, ou grilhetas. Em 1884 ocorre a Conferência de Berlim para a partilha da África pela potências europeias, fronteiras a régua e esquadro a cortar povos ao meio. Para os diplomatas, "tribos" é igual a "coisas". Ingleses, franceses, belgas e alemães usam realmente os pretos como "coisas". E com "coisas" não há trato, arrumam-se aqui, consomem-se ali, deitam-se fora quando se estragam. Já os portugueses tratam os pretos como homens, porém inferiores, eu aqui em cima, tu aí em baixo, estás a perceber ó escarumba? Palmadinhas nas costas, vai à vida e não te queixes, quem não trabuca não manduca... "Assimilados, portugueses de segunda", é justamente como Salazar chama aos pretos. É mútua a simpatia entre Gilberto e Salazar. Está-se a ver porquê...

Venho de um país em que a Igreja é o grande sustentáculo do fascismo. O que me seduz em Ricardo é o escárnio permanente que ele faz da Bíblia:

- Para o asno forragem, chicote e carga; para o servo pão, castigo e trabalho, diz a Bíblia, ou dizem os seus pregadores. Portuga: a Bíblia tem feição de senhor de escravos... Ó se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus, e à sua Santíssima Mãe por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre!, prega um pregador famoso. Portuga: a Bíblia tem palavras de feitor... Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, é Jesus Cristo, dizem outros; exorcizam os orixás como espíritos do Inferno e tratam de excomungar os seus fiéis e seguidores. Portuga: a Bíblia tem maneiras de inquisidor... Antigamente só padres brancos é que podiam explicar a Bíblia ao povo negro e bem sabemos o que foi essa explicação. Portuga, é como te digo: a Bíblia tem focinho de homem branco...

Corrijo:

- Focinho de opressor, isso sim!

- Portuga: para nós, opressor e branco são sinónimos.

- Crioulo: para nós, em Portugal, opressor é quem oprime, seja branco, seja preto.

Então conto-lhe dos meus amigos em Lisboa. Entre eles, dois negros. Um, o Agostinho Neto, é a sisudez aguerrida; virá a ser o primeiro presidente de Angola. O outro, o Amílcar Cabral, é a alegria militante; não verá a independência da sua Guiné-Bissau, será assassinado antes. O mais subversivo, o mais perigoso, o que mais assusta os opressores é a alegria contestatária, cuidam sempre de visá-la e abatê-la; perguntem ao Samora Machel se estou errado...

Bem sei que estou a atafulhar conhecimentos adquiridos em épocas sucessivas. Explica-se: estava, ou estou, ou estarei a ser laçado por um nó do tempo, ali tudo a acontecer no agora, o que foi, o que é, e o que será.

Ricardo aponta-me um contínuo do Banco do Brasil: é o Zé Pelintra, negro talhado em mogno, fraca figura, apagado, tímido, modesto. No terreiro do candomblé, quando nele baixa Ogum, o seu orixá, transforma-se num tipo dominador e combativo. Interrompo:

- Ogum é São Jorge, não é?

Ricardo irrita-se:

- Nesse jacutá, Ogum é Ogum, não é São Jorge; Iansã é Iansã, não é Santa Bárbara; Xangô é Xangô, não é São Jerónimo; Oxalá é Oxalá, não é Jesus Cristo. Ali não há mixórdia, é tudo autêntico, sem carnaval para turista ver. Não é seita, é religião de oprimido. Entendes, ó Portuga?

Entendo, mas quero ver. Ele hesita. Naquele jacutá só vai preto. E o pessoal ficaria renitente, ou mesmo desconfiado, com a presença de um branco. Não perco a oportunidade para malhar:

- Como é, Ricardo? Vocês agora andam a trabalhar com negativos do racismo?

Decide-se, leva-me. É a noite de 19 de Novembro, disso me lembro. Realmente sou olhado com desconfiança. Alguns até bufam, rosnam, hostilidade. Rufar ritmado de atabaques. Babalorixás e Ialorixás, sacerdotes e sacerdotisas entoam cânticos, alaluê, alaluá, não sei que mais numa língua ou dialecto africano. Zé Pelintra cai em transe, espuma, treme, cai no chão, esperneia. Logo se levanta e realmente mudou de personalidade, os seus olhos até chispam, saravá! baixou Ogum. Sempre a comandar, aconselha e ampara os seus fiéis, alguns dos quais também caiem em transe ao contacto das suas mãos. De repente olha para mim, aponta:

- Ocê num tá creditando, num é?

Abano a cabeça. Insiste:

- Vê prá crê, cumo São Tomé, num é? Vosmecê num qué tomá uma cerveja?

- Vinho, se houver. De preferência tinto.

- Essa é bebida de Xangô, que é seu orixá, tou vendo. Vamo chamá...

Aproxima-se de mim. Impõe as suas mãos sobre a minha testa. Apago-me.

Quando torno a mim, já é dia 20. Fremem os atabaque e o povo canta:

- Zumbi, Zumbi, oia Zumbi! Oia Zumbi mochicongo. Oia Zumbi!

CANAVIAIS

Madrugada no terreiro, flores já murchas pelo chão. Ogum retirou-se. Sobrou o Zé Pelintra, fraca figura, outra vez a timidez subiu à tona. Ricardo diz-me que, apesar de branco, Axé, a força viva de Deus, manifestara-se em mim. Xangô, o orixá da Justiça, começara por baixar em mim. Depois, por mim tinham falado a princesa Aqualtune, a seguir os seus filhos Ganga Zumba e Gana Zona e, finalmente, o seu neto Zumbi dos Palmares. Hoje é o dia 20 de Novembro, data em que Zumbi foi executado. Talvez por isso...

Se um orixá me usou para se manifestar no lado de cá, em compensação usei-o eu para ver o lado de lá. Ricardo diz-me que isso não pode acontecer, não é possível, nunca! Abano a cabeça: nunca? Mas tudo, vejo tudo, e como vejo...

Vejo os canaviais de cana doce a ondular em todo o litoral do Nordeste brasileiro. Vejo os navios negreiros a aportar a Recife, zarparam da costa ocidental de África. Branca é sempre a cor do opressor? E os sobas e régulos africanos que venderam outros negros, seus prisioneiros, aos escravocratas brancos? Transportados como gado no porão, vejo que em Pernambuco desembarcam yorubás, angolas, benguelas, congos, cabindas, monjolos, quiloas, minas, rebolos e uns tantos mais, homens, mulheres, até crianças.

Vejo a princesa Aqualtune a ser vendida num leilão de escravos. Vejo que a levam para a casa grande de um senhor de engenho. Dão-lhe um banho e roupa nova, vai aprender a servir à mesa.

Vejo os seus irmãos e o seu povo amontoados na senzala. Vejo que, a chicote, são acordados antes do nascer do sol. Vejo que são empurrados para os canaviais e começam a cortar cana. Há negros promovidos a feitores, também eles usam chicote. Branca é sempre a cor do opressor? Vejo os cativos que juntam e amarram molhes de cana. Vejo que, às costas, os transportam para o engenho. Vejo a moenda, a casa de purgar, as fornalhas, a casa dos cobres, galpões e depósitos, vejo negros que não param de labutar. Trabalho muito, comida pouca, no máximo viverão mais seis ou sete anos.

- Que morram! (diz um senhor). Em África, pretos é o que não falta... O que é preciso é produzir!

Vejo o açúcar disputado pelos mercados da Europa. Vejo um cativo exausto a abrandar o ritmo de trabalho. Um feitor (negro, negro...) trata-lhe as costas a chicote. Um outro dá-lhe palmatoadas nas nádegas. Esfregam com sal as feridas, carne viva. Esse é o castigo para a preguiça, a dor ficará para sempre na memória.

Vejo, a cavalo, um capitão-do-mato (negro, negro...), de carabina a tiracolo, a caçar um escravo fugitivo. Consegue laçá-lo. Se não conseguisse, apontava, fuzilava. Arrasta-o para a senzala. Impõe-lhe uma canga no pescoço e nela as mãos ficam presas. Dá-lhe então o tratamento de chicote e sal. Uma semana depois um capataz, mas branco, retira-lhe a canga, leva-o para o suplício do tronco, no qual os tornozelos ficam presos e, por isso, sentado ou deitado queda-se o preto, e logo leva o segundo tratamento de chicote e sal.

Vejo que, apesar do risco, há escravos que não desistem de fugir. Vejo que, do porto de Recife, rumo a Lisboa, todos os meses largam navios e mais navios com o açúcar produzido por 66 grandes engenhos. A Europa muito aprecia esta doçura luso-tropical.

PALMARES

Em Pernambuco, os escravos fogem. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.

Não desistem, apesar do risco... E fogem, como fogem, não param de fugir... Antes a morte do que vida tal. Vejo um grupo de escravos fugitivos a estabelecer-se na serra da Barriga, hoje está no mapa de Alagoas. Isso ocorre, parece-me, por volta de 1600. Vejo que, uns dez anos mais tarde, também a Princesa Aqualtune consegue fugir para a Serra da Barriga. Nó do tempo, remoinhos, remoinhos, e logo vejo que em 1630 a população é já de 3 mil. É quando os holandeses invadem o Nordeste brasileiro. Vejo que a invasão desorganiza a produção açucareira. Vejo que o estado de guerra entre portugueses e holandeses facilita a fuga de um número cada vez maior de escravos. E que em 1670 eles já são 30 mil, república de negros que, por conta própria, correram em busca da liberdade. Ao quilombo dão o nome de Palmares, realmente palmeiras é o que ali não falta. Vejo que o território, a 30 léguas do litoral, é uma faixa com 200 quilómetros de largura, paralela à costa, e que vai desde a margem esquerda do curso inferior do São Francisco até à altura do Cabo de Santo Agostinho. Vejo que abrange o planalto de Garanhuns e, para além da Serra da Barriga, as Serras do Cafuchi, Juçara, Pesqueira e Comonati. Vejo que é banhado por nove rios. Vejo que a floresta e o terreno acidentado tornam difícil a incursão dos soldados brancos. Vejo que a república tem vários mocambos. O principal, o que foi fundado pelo primeiro grupo de escravos foragidos, fica na Serra da Barriga e leva o nome de Cerca do Macaco. Duas ruas espaçosas com umas 1500 choupanas e uns 8 mil habitantes. E Amaro, outro mocambo, tem 5 mil. E há outros, como Sucupira, Tabocas, Zumbi, Osenga, Acotirene, Danbrapanga, Sabalangá, Andalaquituche. Uma rede de 11 mocambos no quilombo de Palmares.

Vejo que a floresta dá quase tudo quanto o povo precisa: frutas, folhas de palma com que fazem as coberturas das choupanas, também as fibras para a confecção de esteiras, vassouras, chapéus, cestos e leques. E ainda a noz de palma de que fazem óleo. Vejo que fazem vestimenta das cascas de algumas árvores. E que produzem manteiga de coco. E que plantam milho, mandioca, legumes, feijão e cana. E que fazem comércio dos seus produtos com pequenas povoações vizinhas, de brancos e mestiços, mas onde não impera a monocultura da cana. Portanto, de escravos não precisam eles. Afinal sempre é possível o relacionamento pacífico entre brancos e pretos, e agora estou a lembrar-me do Amílcar Cabral, e do Agostinho Neto, e do Samora Machel. Não me chateiem, já disse que é um nó do tempo, remoinhos, remoinhos...

Vejo que, em Palmares, as exigências de produção para alimentar milhares de bocas, e a urgência de promover o convívio de tanta gente, leva os palmarinos a organizar o quilombo como se fosse um pequeno Estado. Há leis que passam a regulamentar a vida dos habitantes e algumas são bastantes duras. Roubo, deserção e homicídio são punidos com a morte. Vejo que as decisões mais importantes são tomadas em assembleias nas quais participam todos os adultos. Reparo que a língua franca, naquela babel de tantas línguas e dialectos, é o português ou um crioulo de português. Sei que o mesmo acontecerá no outro lado do Atlântico e até no Índico. Observo que a autoridade é sempre aceite. Não sofrida, nem contestada, pois resulta da vontade colectiva.

Eis-me agora em Olinda, remoinhos. Sei que haver além, naquelas serras, uma Terra da Promissão para os pretos, é o alvoroço permanente dos cativos em Pernambuco, tão perto fica a liberdade... "Há que arrasar Palmares, há que recuperar, vender ou matar os pretos fujões!" - ouço que dizem os senhores de engenho, diz também a tropa portuguesa. E tentam, vejo que tentam, muitas e muitas vezes tentam destruir o quilombo, mas repelidos acabam sempre. Só a Cerca do Macaco é defendida por uma tríplice paliçada, cada qual sob a guarda aturada de 200 homens. A defesa da liberdade é, sem dúvida, a grande organizadora do povo de Palmares.

Primeiro são repelidos os portugueses e depois os holandeses em 1644. Vejo que estes até acabam por desistir de assolar o quilombo. Têm outras guerras mais prementes...

Em 1654 os portugueses expulsam os holandeses do Nordeste brasileiro. Ao fim de 24 anos de guerras e guerrilhas, ficam normalizadas a vida da capitania e a produção açucareira. "Agora o que é preciso é arrasar Palmares!" - ouço os senhores de engenho a reclamar e vejo o Governador a concordar com a exigência.

Mas também vejo que, no ano seguinte, uma das filhas da Princesa Aqualtune pare um menino ao qual é dado o nome de Zumbi, que significa Eis o Espírito! Como sei disto, eu cá não sei...

ZUMBI

Zumbi retorna a Palmares. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.
Vejo que o menino Zumbi corre livremente pelas terras cultivadas do seu mocambo natal, a Cerca do Macaco. Vejo que, aos sete anos, soldados portugueses o apanham desprevenido e o arrastam, com outros negros, para Porto Calvo. Vejo o garoto ser oferecido ao padre António Melo. Vejo que o padre o baptiza com o nome de Francisco. Vejo que lhe ensina português e latim. Aprende rapidamente e começa a ajudar à missa. É considerado rapaz esperto, cativo mui fiel, vigilância abrandada e ele a preparar a retirada. Vejo que, aos quinze anos, finalmente foge da paróquia para Palmares, retorna aos seus.

Vejo que nesse mesmo ano de 1670, Ganga Zumba, filho da Princesa Aqualtune, tio de Zumbi, assume a chefia do quilombo. Vejo que, em 1675, a tropa comandada pelo Sargento-mor Manuel Lopes, depois de batalha sangrenta, ocupa um mocambo com mais de mil choupanas. Vejo que os negros se retiram. Vejo que, cinco meses depois, os negros contra-atacam, combate feroz e Manuel Lopes é obrigado a retirar para Recife.

Condutor dos guerreiros quilombolas é Zumbi, condutor já venerado e tem apenas 20 anos. Do meu caminho arredo almas, procuro-o, digo-lhe:

- És tu o Espártaco negro?

Olha para mim, desconfiado. Nele parece-me reconhecer a sisudez do Agostinho Neto.

- Quem é esse?

- Foi o chefe dos escravos sublevados, na Roma antiga.

- O que lhe aconteceu?

- Lutou até ao fim, foi preso e executado, morreu pregado na cruz.

- Antes esse do que o outro que o padre Melo me queria impingir...

Não me conformo:

- Por que dizes isso? Logo tu, que até aprendestes latim e ajudaste à missa...

Rasga um sorriso que reconheço ser o de Amílcar Cabral. É quanto basta para eu ser apanhado por outro nó do tempo e dou comigo na igreja matriz de Olinda. O pregador famoso do Ricardo, afinal é o próprio padre António Vieira. A dourar a mansidão, sermão ao povo negro:

- Oh se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus, e à sua Santíssima Mãe por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre!

António Vieira fala depois no Coré, que quer dizer Calvário. Explica:

- Declara David no título do último salmo quem sejam os operários destas trabalhosas oficinas, e diz que são os filhos de Coré: Pro torcularibus filiis Core. Não há trabalho, nem género de vida no mundo mais parecido à cruz e paixão de Cristo, que o vosso em um destes engenhos.

Remata:

- Bem-aventurados vós se soubéreis conhecer a fortuna do vosso estado, que é um grande milagre da providência e misericórdia divina.

Ouço e vejo tudo, desfaz-se o nó, retorno a Palmares. Quero continuar a conversa mas, sorrindo sempre como o Amílcar, Zumbi acena um adeus, vai-se embora. Tem mais que fazer, os seus guerreiros esperam por ele.

GANGA ZUMBA

Vejo que em 1676 Fernão Carrilho comanda as tropas das vilas apostadas na extinção de Palmares. Ataca o quilombo: insucesso! Regressa a Recife. Mas não desiste. No ano seguinte ataca a Cerca do Macaco. A princesa Aqualtune, o seu filho Ganga Zumba e a maioria dos negros conseguem fugir. Carrilho dirige-se depois para o mocambo de Gana Zona, outro filho de Aqualtune, mas encontra-o em cinzas, incêndio previamente ateado pelos habitantes, terra queimada. Entre as ruínas descubro uma capela com santos da Igreja Católica.

- Mas o que é isto? - pergunto-me.

Zumbi ressurge, sorrindo sempre:

- De África para o Brasil, orixás ou santos, cada qual escolhe os seus, é a única liberdade que os negros têm...

Desaparece.

Carrilho assenta arraiais em Sucupira, pede reforços. Engenha operações-relâmpago, mata muitos pretos, aprisiona outros, entre estes Gana Zona e dois filhos de Ganga Zumba. Pensa já ter destruído Palmares, regressa a Recife, festejos. Porém, passados poucos meses, o quilombo já está reconstruído.

O Governador Pedro de Almeida sabe que é muito difícil a extinção do quilombo. Mais lhe interessa a submissão do que a destruição. Se conseguir fazer a paz, concedendo perdão e alforria aos quilombolas, Palmares poderá vir a ser um novo reduto português, uma nova vila colonial. Manda emissários fazer a proposta a Ganga Zumba, que medita, remói e decide aceitá-la. Muitos chefes negros louvam a prudência e a sabedoria da decisão. Em 1678 Ganga Zumba manda ao Recife três dos seus filhos e mais doze chefes para firmarem a paz. Ganga Zumba é promovido a mestre-de-campo. Para comemorar o acontecimento, vejo que há missa de acção de graças na igreja matriz de Olinda.

Vejo que irrompe Zumbi em desacordo, revoltado contra o tio:

- Enquanto houver um negro cativo, nenhum negro será livre!

Vejo Ganga Zumba a expulsá-lo da Cerca do Macaco.

A JOVEM GUARDA

Zumbi congrega a Jovem Guarda de Palmares. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.

Acompanho Zumbi de mocambo em mocambo. Ouço que diz a cada jovem:

- És tu um negro livre? E o teu pai, e os teus irmãos, que sofrem o tratamento de chicote e sal, que sofrem os suplícios da canga e do tronco? E a tua mãe, as tuas irmãs, que são forçadas a abrir as pernas para o senhor de engenho e para os filhos do senhor de engenho? Diz-me: tu és realmente um negro livre?

Em poucos meses está arregimentada a Jovem Guarda do quilombo, guerras e guerrilhas, incêndio de canaviais até às portas de Recife e Porto Calvo. Armas de fogo e munições, só aquelas que os guerreiros negros vão tomando ao inimigo.

Vejo que Pedro de Almeida liberta Gana Zona e manda-o a parlamentar com Zumbi. O tio não consegue dobrar o sobrinho.

Vejo que, na Cerca do Macaco, um jovem põe veneno na comida e assim morre Ganga Zumba. Agora, o incontestado imperador de Palmares, é Zumbi.

Batalhas terríveis. Vejo que o Conselho Ultramarino Português se refere a Zumbi, "tão célebre pelas hostilidades que faz em toda aquela Capitania de Pernambuco, sendo o maior açoite para os povos dela." E ouço que dele diz um dignatário: "Negro de singular valor, grande ânimo e constância rara."

Vejo que, em 1680, Aires de Sousa e Castro é o novo Governador de Pernambuco. Manda apregoar perdão e honrarias ao Capitão Zumbi. O Senhor Governador até já lhe chama capitão... Não morde o isco, segundo Ganga Zumba não é ele, não, não deponho as armas, enquanto houver um negro cativo, nenhum é livre!

DOMINGOS JORGE VELHO

Vejo que em 1686 há um novo Governador em Pernambuco, o seu nome é Souto Maior, e a guerra contra o Zumbi dos Palmares continua sempre sangrenta.

Vejo que Souto Maior manda chamar Domingos Jorge Velho, bandeirante paulista que, com a sua tropa, gente feroz, andava a prear e a matar os índios do Piauí. Vejo que, a troco de um quinto do valor dos negros recuperados, terras e perdão para os possíveis crimes dos seus homens, o convida para a guerra contra Palmares. O governo entrará com as armas, munições e víveres. Vejo que o acordo entre ambos é assinado em 1691. Vejo mil homens a atacar Palmares e vejo Zumbi e a Jovem Guarda a resistirem na Cerca do Macaco. Vejo Domingos Jorge Velho retirar para Porto Calvo.

Mas também vejo que o Governador manda o Capitão-mor Vieira de Mello ajudar o bandeirante. De 23 a 29 de Janeiro de 1694, duas vezes a tropa tenta romper a Cerca, duas vezes são repelidas. Até mulheres, lá do alto, lançam água a ferver sobre os soldados portugueses. Mas a 6 de Fevereiro, de Recife chegam bombardas. Assestam, disparam, a tiro grosso conseguem rasgar brechas na tripla cerca do mocambo. É por elas que os soldados invadem a cidadela, corpo-a-corpo, massacre, charcos de sangue. Vejo que Zumbi leva dois tiros mas consegue escapar.

- Zumbi não morre, oia Zumbi! não pode morrer, oia Zumbi! tem o corpo fechado, oia Zumbi! - rezam os negros.

Vejo que em 1695, no caminho de Penedo a Recife, é preso um velho quilombola. Prometem-lhe a vida se apontar o esconderijo de Zumbi. E ele aponta. O bandeirante André Furtado de Mendonça é quem comanda o cerco, vence, prende e degola Zumbi dos Palmares. É o dia 20 de Novembro de 1695. O bandeirante leva a cabeça para Recife, repicam os sinos, dia feriado, acção de graças.

- Zumbi, Zumbi, oia Zumbi! Oia Zumbi mochicongo. Oia Zumbi!

Vejo que os negros aprisionados são todos vendidos para capitanias distantes, assim se corta pela raiz a esperança de regeneração do quilombo. As terras de Palmares são divididas em lotes e doadas em sesmarias aos capitães vencedores.

De 1600 a 1695... Durante quase cem anos um espinho cravado na garganta dos escravocratas de Pernambuco... Os tais da casa grande e senzala, os do melaço luso-tropical...

FEITIÇO

Quando torno a mim já é dia 20. Fremem os atabaques e o povo canta:

- Zumbi, Zumbi, oia Zumbi! Oia Zumbi mochicongo. Oia Zumbi!

Cativos do racismo, não me espanta que os filhos de escravos negros invoquem o espírito do Espártaco negro. Atordoado, saio do terreiro.

O Ricardo quer levar-me a casa, de automóvel. Agradeço mas recuso, prefiro ir a pé, estou abafado, talvez a brisa da madrugada me refresque. Alcanço o Largo do Machado e começo a subida. Moro em Santa Teresa, é bairro que me seduz. Lá do alto, gosto muito de ver a cidade a contornar os morros e a esparramar-se pelas praias.

Ouço passos, volto-me, mais abaixo há dois vultos que me seguem. Certamente dois do jacutá, escamados com a presença de um branco. Não me apresso, que venham, logo se vê...

Zumbi traído, Amílcar traído, a traição nunca desarma. E os Ganga Zumbas que há na vida? Cuidar da nossa pele, da nossa pança, os outros que se danem, quem não chegou, chegasse... E os que lutaram pela liberdade e, de oprimidos passaram a opressores? Como aquele negro que lutou na Guiné, lado a lado com o Amílcar? Terá de ser sempre assim, não damos outra volta às nossa vidas?

Chego a casa, não olho para o lado, meto a chave, entro, puxo os lençóis, caio na cama, a ver se durmo...

Na manhã seguinte, à minha porta, está uma galinha preta degolada. Dou-lhe um pontapé, o bicho levanta voo rasante, cai na valeta. Estou de bem comigo, tenho o corpo fechado, feitiço em mim não ferra o dente.

Fernando Correia da Silva

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Movimentos em defesa das minorias cobram de Dilma cargos na Esplanada


Representantes de movimentos de igualdade racial e em defesa de minorias começam a cobrar da presidente eleita cargos na Esplanada e defesa de inclusão de políticas específicas


Ao levantar a possibilidade de entregar a mulheres pelo menos 30% dos cargos na Esplanada, a presidente eleita, Dilma Rousseff, mal imaginava que abria uma brecha para reivindicação de representantes de movimentos de igualdade e em defesa de minorias. A Dilma, agora cabe materializar na equipe a diversidade sexual e racial que defendeu ao longo da campanha. Para os afrodescendentes, é importante que membros da comunidade estejam em postos importantes. Diferentemente do que pensam representantes de índios e de gays, lésbicas e transgêneros. Se a petista conseguir criar políticas públicas sérias para esses segmentos, já está de bom tamanho.

Integrantes do movimento em defesa da mulher negra resolveram declarar que querem uma fatia do poder público a partir de 2011. “Nós somos maioria, queremos representatividade não só no Ministério do Esporte e em secretarias especiais. Queremos ministras negras. Até porque a questão da mulher negra é muito mais grave do que a do homem negro. A sociedade nos colocou num lugar que não é nosso”, diz uma das coordenadoras do Fórum Nacional de Mulheres Negras (FNMN), da Bahia, Gicélia Cruz.

Ela engrossa o coro liderado pelo presidente da ONG Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro), frei David Santos. Na segunda-feira da semana passada, ele encaminhou carta à presidente eleita em que defende uma cota de 30% de negros na equipe ministerial. O frei ainda não recebeu resposta e acha que isso talvez não aconteça tão cedo. “Entramos numa briga de foice. Todo mundo quer cargo”, afirmou ele. No Congresso Nacional, o pedido é considerado legítimo.

Para a senadora Fátima Cleide (PT-RO), sem reclamação não tem crescimento. “Acho que Dilma vai considerar cada um dos pedidos para composição do governo”, afirma. “É fundamental que esses movimentos sejam ouvidos”, acrescenta o senador Gilvam Borges (PMDB-AP).

Entre os indígenas, mais do que representantes no alto escalão, o que preocupa é o silêncio de Dilma em relação a eles durante e após as eleições. “Não houve bom senso nem sensibilidade para lembrar o índio”, reclama o representante da Coordenação dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Marcos Apurinã. No segundo turno, ele entregou aos candidatos à Presidência uma carta com as demandas da raça. Entre eles, a aprovação do novo estatuto dos Povos Indígenas e do Projeto de Lei do Conselho Nacional e Política Indigenista. “Defendemos ainda a implementação de uma política educacional nas aldeias e uma saúde de qualidade.”

Uma outra fonte de dor de cabeça do dirigente diz respeito às grandes obras de infraestrutura tocadas pelo atual governo e que devem ser concluídas com Dilma. Segundo ele, nenhuma entidade ligada aos índios foi consultada sobre a construção das hidrelétricas de Jirau, no Rio Madeira (RO), que já está em andamento, e de Belo Monte, no Rio Xingu (PA). “O governo fez vista grossa e nos empurrou goela abaixo essas obras. O Brasil quer ser de Primeiro Mundo sem levar em conta a voz das minorias”, diz. Apurinã defende a permanência dos titulares da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), Antônio Alves, e da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira. “O importante é que se dê continuidade aos trabalhos”, afirmou ele.

Ameaça de barulho
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, Toni Reis, não há qualquer interesse por cargos ou status. Mas isso não quer dizer que o movimento seja indiferente às indicações para o próximo governo. Caso um dos ministros, por exemplo, tenha um histórico de comportamento homofóbico, a categoria vai fazer barulho. “A presidente vai se incomodar com a gente. Não vamos aceitar quem não nos respeita”, afirma ele. A única reivindicação do segmento é a execução do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos para a população LGBT. “Queremos gente competente para discutir políticas para essa faixa de brasileiro”, declara Toni.

Enquanto os demais movimentos tentam encontrar um lugar no governo Dilma, feministas festejam a intenção voluntária da presidente de aumentar a presença das mulheres na Esplanada. Para a coordenadora nacional da União Brasileira de Mulheres, Elza Campos, a decisão da presidente eleita é carregada de simbolismos. “Embora ela não seja feminista, ela tem sensibilidade e compreensão sobre o papel da mulher.”

Única mulher eleita da bancada da Bahia para o mandato de 2011 a 2014 na Câmara dos Deputados, Alice Portugal (PCdoB), também celebrou a iniciativa. “É uma decisão muito avançada. É uma forma de afirmar o gênero, já que isso ainda não aconteceu no Legislativo”, declarou. Nas eleições deste ano, foram eleitas 45 deputadas federais e oito senadoras. Juntas, elas ocupam menos de 10% das cadeiras do Congresso. “É uma situação vexaminosa”, afirmou Alice.
Luciana Bezerra
Publicação: 16/11/2010 08:15 Atualização: 16/11/2010

Cidade Nova: metrô gratuito em horário ampliado


Funcionamento da estação é das 5h à meia-noite a partir de hoje. Previsão é de que passageiros passem de 2 mil a 10 mil
Rio - Começa a funcionar hoje a Estação Cidade Nova, no Centro, no horário normal de operação do metrô, de segunda a sexta-feira, exceto feriados, das 5h à meia-noite. Por enquanto, não haverá cobrança de tarifa para embarque na nova estação. A gratuidade termina no dia 1º de dezembro. A passarela de acesso sobre a Av. Presidente Vargas já funciona no período integral e abre também aos sábados, das 5h à meia-noite, e domingos e feriados, das 7h às 23h.


Nova estação, cujo piso é inspirado no canteiro central da Avenida Atlântica, terá embarque pago só a partir do dia 1º de dezembro, após um mês de funcionamento gratuito para testes | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia

De acordo com a concessionária Metrô Rio, nos primeiros dez dias de funcionamento, desde a abertura, em 1º de novembro, a média de passageiros na estação ficou em torno de 2 mil pessoas por dia. A previsão da empresa é de que, com a operação plena, circulem no local cerca de 10 mil passageiros por dia.

A nova estação deve beneficiar os passageiros que desembarcam na Avenida Presidente Vargas, vindos da Linha 2 e dos trens da SuperVia. Esse público utiliza atualmente as estações do Estácio e da Praça Onze, ambas da Linha 1. A estação do metrô vai permitir a ligação com a Rodoviária Novo Rio e com a Estação da Leopoldina, onde funcionará o futuro terminal do trem de alta velocidade ligando o Rio a São Paulo.

O desenho artístico do piso da estação, do mezanino e da nova passarela foi desenvolvido pelo escritório Burle Marx & Cia. Ltda. A nova estação possui seis elevadores para pessoas com dificuldades de locomoção, placas de orientação em braile e piso diferenciado para auxiliar na locomoção de deficientes visuais. Três elevadores já estão funcionando e os demais entram em operação até o fim do ano.

A nova estação tem passarela de acesso ao metrô medindo 221 metros, instalada a uma altura de 6,45m da via. A altura foi determinada pela prefeitura, acima dos 6,25 m, para permitir a passagem de carros alegóricos durante o Carnaval. Até 2014, a empresa planeja entregar à população mais uma estação, a Uruguai, na Tijuca, Zona Norte.

Funcionários do teleatendimento do Detran entram em greve


Rio - Pelo menos dois mil funcionários do teleatendimento do Detran-RJ entraram em greve, na manhã desta terça-feira. Os atendentes fazem um protesto na porta do prédio do órgão, no Centro. O grupo reclama da suspensão de benefícios, como vale-transporte e vale-refeição. Segundo informações do Detran, os motoristas podem continuar fazendo agendamento para vistorias de veículos e pedidos de carteira de habilitação pelo site (www.detran.rj.gov.br). O Detran informou que o setor de teleatendimento é dividido em turnos, de 6h à meia-noite.

Cabral continua o fanfarrão de sempre


Sergio Cabral faz o que quer com o noticiário do ‘Globo’.
Hoje, o jornal informa que o governador deverá fazer dois ministros: o da Saúde e o das Minas e Energia.
Ou os repórteres, ou o governador, deram para beber no horário do expediente.
* * *
O PSB fez seis governadores, e o PMDB apenas cinco.
Com esse cacife, os socialistas estão reinvindicando quatro ministérios.
Já o fanfarrão do Rio acredita que, da cota do PMDB, dois ministérios serão indicados por ele.
Ele quer a Saúde, transferindo assim as algemas para Brasília, e mais o das Minas e Energia, o xodó da Presidenta.
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Desde que Dilma se transferiu para a Casa Civil, Minas e Energia ficou com o PMDB do Maranhão, leia-se José Sarney.
O diferença de votos que Dilma teve no Rio, contra José Serra, foi a mesma diferença que ela obteve no Maranhão. E isso em números absolutos. Só que lá, o eleitorado é de apenas 4 milhões de eleitores, contra 12 milhões do Rio.
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Cabral diz que o Rio deve ficar com Minas e Energia, pois tanto a Petrobras quanto a Eletrobras tem suas sedes na capital fluminense.
Mas isso desde suas criações.
Por que será que Cabral não teve, no governo Lula, não o ministério, nem a presidencia dessas estatais, mas pelo menos uma diretoria?
Por uma razão simples: ele não tem quadros.
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No mesmo noticiário de ‘O Globo’, está dito que ele trabalha por Jorge Picciani.
A notícia certamente só pode ter sido dada para agradar o próprio Picciani.
Não teria o menor sentido Dilma fazer um ministério de derrotados.
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Fora isso, é sabido que o PMDB não confia, quer distância, e boa parte de sua liderança detesta o governador Sergio Cabral.
Ele já deu diversas provas de traição ao partido.
Em foi o único governador que ficou contra a candidatura de Michel Temer para a presidência do PMDB. Na época, Cabral fez o possível para eleger Nelson Jobim , cuja candidatura durou pouco mais de 24 horas.
Depois, emprestou a barriga para que Lula gestasse a candidatura de José Gomes Temporão para o ministério da Saúde, contra o desejo do partido.
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A diferença de votos que Dilma Rousseff obteve no Rio foi ridícula.
E isso porque ela não contou com o empenho do governador na campanha.
Nem Cabral, nem Picciani, gastaram um único tostão no segundo turno.
Cabral abandonou a campanha e viajou, de férias, para a Europa.
Cabral não participou de nenhum ato político em favor da candidata, a não ser nos momentos em que ela estava presente.
Cabral não foi a Brasília cumprimentar Dilma e nem ouviu o seu discurso.
Cabral disse, no Twitter, que ele telefonou para parabenizar Lula. O governador acredita firmemente que Lula é quem comandará o futuro governo.
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A quem interessar possa.
Os tres governadores queridinhos de Dilma são Cid Gomes (CE), Jacques Wagner (BA) e Eduardo Campos (PE).
Exatamente nessa ordem.
Quem quiser prosseguir nessa lista, e nomear os três seguintes, também não encontrará o nome de Cabral.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A jogada eleitoral de Eduardo Paes


O prefeito Eduardo Paes vai lançar o tal Bolsa-Carioca obviamente com objetivo eleitoral e nada mais. Acha que com isso vai reverter a sua rejeição entre a população mais pobre, que hoje é altíssima, o que nem poderia ser diferente já que persegue diariamente com seus “choques de ordem” as pessoas humildes.

Mas vejam o absurdo, que o Bolsa Carioca vai ser distribuído até aos que já recebem o Bolsa-Família. Mas o pior não é isso. Comenta-se que Paes e seu amigo do peito e braço-direito Pedro Paulo, secretário da Casa Civil vão usar o benefício também para que vereadores e políticos aliados possam distribuí-lo nos seus redutos eleitorais. É bom que o MP fique de olho nesse Bolsa Carioca.