sábado, 29 de janeiro de 2011
Executivo mina oposição a Marco Maia e constrange eleitores de Mabel
O peso da mão do governo na definição da próxima Mesa Diretora da Câmara será sentido a partir de segunda-feira. Um dos retratos mais fidedignos da obediência que o novo Congresso ensaia oferecer ao Executivo deve ser o isolamento do atual líder do PR, Sandro Mabel (GO). Único a resistir às ordens palacianas de abortar as candidaturas dos oponentes de Marco Maia (PT-RS) à Presidência da Casa, o parlamentar terá de enfrentar uma guerra interna com seu partido, foi inviabilizado como líder da legenda e agora enfrenta o temor dos colegas de serem listados como apoiadores de uma candidatura alternativa à imposição palaciana.
O isolamento imposto a Mabel começou dentro do seu partido, com as ameaças de que poderia ser expulso por descumprir orientações da direção nacional e insistir em ser candidato. “Não tenho medo de represálias. Outras legendas já me convidaram, caso eu seja mesmo expulso. Insisti porque não estou fazendo nada errado. Quero apenas evitar que a eleição da Mesa Diretora seja um ato simbólico para nomear um candidato escolhido pelo Executivo”, diz o parlamentar.
As dificuldades, no entanto, não devem se limitar ao partido. Deputados que sempre mantiveram conversas frequentes com ele e que eram assíduos em seu gabinete se afastaram nos últimos dias. Temem ser contabilizados como votos dissidentes da candidatura costurada pelo governo em torno do nome de Marco Maia. O Correio conversou com dois desses parlamentares. Ambos admitiram o que chamam de “discreto afastamento” porque não querem correr o risco de aparecer na lista de apoiadores de Mabel. É que desagradar ao governo neste momento seria iniciar a legislatura com dificuldades de trânsito, diálogo e, claro, com distanciamento das indicações para cargos distribuídos nos diferentes órgãos do governo. Um risco que eles preferem não correr.
A cautela que os colegas demonstram durante os contatos que Mabel tem feito em busca de apoio foi sentida pelo deputado. “Eles me ligam, dizem que vão me apoiar, mas frisam que é um apoio escondido, para não sofrer represálias. O importante é que eles saibam que meu nome foi mantido para os que não querem ficar de cócoras. Para os que preferem um Legislativo independente”, frisa.
Influência
Enquanto deputados mais afinados com as propostas de Mabel garantem a ele apoio às escuras, a tropa de choque do governo ataca a candidatura oponente alegando que a real intenção do deputado é tornar-se um nome de visibilidade. Seria uma tentativa de se tornar mais influente e entrar na lista de cotados para grandes cargos no Executivo. Por essa teoria, ao perceber que a estratégia não surtiria efeito, o deputado seguiu em frente com sua campanha e resolveu comprar a briga com o governo e com o partido. Posição diferente da que tiveram Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Nelson Marquezelli (PTB-SP). Ambos ensaiaram o enfrentamento, mas recuaram. “Não era para ser assim. Essa eleição da Mesa tinha de ter uns seis deputados disputando a Presidência. Deveria ser um processo de democracia, um momento de independência do Legislativo”, diz Mabel.
Izabelle Torres
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