quarta-feira, 23 de junho de 2010

MORADORES DE RUA: A CULPA É DA FALTA DE TRANSPORTE?

Obviamente, o combate à pobreza em nosso país tem que estar alicerçado nas necessidades humanas básicas amplamente conhecidas, que são a saúde, educação, nutrição, habitação, saneamento básico, segurança e transporte público, sendo que esse último é fator de extrema relevância para a melhoria de vida das pessoas e deveria sempre ser privilegiado nas ações de combate à pobreza, pois é o único serviço que participa de todas as atividades da sociedade e afeta as pessoas todos os dias. As outras necessidades humanas básicas dependem fundamentalmente de algum modo de transporte para atingir seus objetivos, tais como os deslocamentos casa-trabalho, casa-escola e casa-lazer, o acesso a hospitais, a chegada dos alimentos à população, a entrega dos materiais e equipamentos para as construções de habitações, o escoamento das produções agrícolas e industriais, comercialização de produtos e serviços, entre outros.

Dessa forma, a efetiva erradicação da pobreza no Brasil deve começar pela implementação de projetos de transportes que produzam reais benefícios sociais, econômicos, ambientais e humanos para toda a população, de forma que suas finalidades precípuas sejam atingidas: deslocar seres humanos de forma econômica, rápida, segura, confortável e saudável.

Por que estou colocando isso? Porque fiquei impressionado com a recente matéria do JB sobre as pessoas dormindo nas calçadas das avenidas Rio Branco e Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro, com o frio das madrugadas batendo recordes nesta época do ano, de final de outono. Na verdade, essas e muitas outras pessoas ainda preferem o relento do a um dos 53 abrigos municipais da capital.

Os moradores de rua do Centro dormem sobre papelões e cobertores doados ou recolhidos nas ruas. A prefeitura estima que existem 5.200 sem-teto espalhados pela cidade, incluindo os que estão em abrigos. A reportagem do JB relatou o caso do ex-motorista de ônibus Carlos Rodrigues da Costa, de 46 anos, que vive nas ruas há 25 anos, desde que chegou ao Rio, vindo da Bahia. Ele disse ao JB que estudou comunicação social até o segundo período e fez a seguinte crítica: “os albergues da prefeitura são cemitérios de corpos, sujos e mal-organizados e as pessoas ficam jogadas lá, sem uma terapia ocupacional para preencher suas mentes”.

A reclamação mais recorrente dos moradores de rua é a distância entre os abrigos e o Centro da cidade, onde a maioria ganha seu sustento. O segurança Jorge Luís da Silva, de 30 anos, diz ser impossível pagar o transporte diário de num abrigo na Ilha do Governador (Zona Norte) até Copacabana, onde trabalha. O caldeireiro Carlos Roberto Guimarães, de 46 anos, oriundo de Porto Alegre, há sete meses no Rio, diz que gostaria de ir para um abrigo, mas reclama das dificuldades impostas pela prefeitura para conseguir uma vaga nos abrigos: “eu gostaria de ir para algum lugar, mas não me encaixo no que eles querem, pois preciso preencher formulário e, depois de um tempo, eles nos botam para fora, mesmo sem ter para onde ir”.

Certamente, existem outros motivos para as pessoas morarem nas ruas das grandes cidades brasileiras, mas a falta de transporte público abrangente, integrado, regular e econômico talvez seja a razão principal dessa anomalia urbana. Muitos trabalhadores não ganham o suficiente para pagar o transporte casa-trabalho-casa ou moram em locais onde não há transporte que os levem às suas moradias, por isso preferem ou são obrigados a passarem a semana dormindo nas ruas.

As cidades brasileiras de médio e grande portes carecem de sistemas de ônibus, metrôs, trens suburbanos ou veículos leves sobre trilhos, desde que planejados de forma racional, abrangente e integrados e com política tarifária adequada ao poder aquisitivo da população. Isso já ajudaria bastante no combate à pobreza no Brasil e melhoraria a qualidade de vida das populações das cidades brasileiras.

Fonte: jblog

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